terça-feira, 1 de novembro de 2011

Bábá




Avó, eu escrevi assim em 29 de Dezembro de 1975.

Não tenho palavras nem lágrimas correm para exprimir a dor. Morreste, é verdade, embora, por vezes, pareça mentira.
É como se existissem três avós: a Bábá, nome que te dei e os outros adoptaram, a doente e a morta. Todas queridas e diferentes. A realidade é outra, agora só há uma avó, a morta. Já nada podemos fazer por ti. Nem rezar posso, não acredito. Se houver uma vida para além da morte, tu serás feliz. Como eu quero que haja! É a minha esperança. Caso contrário, tudo é nada, o niilismo. Ficou a tua recordação. Mas a ti de que te serve?
No dia em que vieste morta para S. Domingos de Rana, a carrinha funerária desceu em direcção a Caxias. Apesar de Inverno, o mar estava tão azul, reflexo certo do céu, com um sol tão brilhante.
- Essa imagem nunca se apagou da minha memória, mesmo agora passados muitos anos. –
Todos os dias tenho recordado bocados da tua / nossa vida.
Quando chega a noite, tenho medo, fico inquieta e melancólica. Creio que são as trevas, essa maldita escuridão. Esta impotência de nada poder fazer. Nem gritos ou risos te devolverão a vida. No meu futuro a conformação.

Por várias vezes, quando estou em Lisboa, tenho passado na Rua de S. João da Praça. Lá está o largo em frente à tua porta. Os pombos são os mesmos, quase parece.
Tenho pensado em subir ao teu andar, bater à porta, ver quem agora habita onde moraste, o que fizeram da casa. Nunca consegui.
Desço pelas escadas do beco, aquele que cheirava, cheira ainda a urina. Tenho receio de lá passar, tal como em garota. “É preciso cuidado. Pode lá haver algum homem”, dizias.
Desço apressada, pelo medo e pelo cheiro. E não quero voltar.


Hoje, 1 de Novembro de 2011, uma flor para ti.

sábado, 30 de abril de 2011

Intervenção da CDU na Assembleia de freguesia da Aldeia de Joanes

Intervenção sobre o 25 de Abril / 1º de Maio

Esta Assembleia de Freguesia realizou-se em 29 de Abril de 2011, entre duas importantes datas da nossa história recente.

Tinha-se comemorado há quatro dias o trigésimo aniversário do 25 de Abril. Faltavam três dias para o nosso primeiro Dia do Trabalhador comemorado em liberdade perfazer a mesma idade.

            "Em trinta e sete anos muito se fez neste País, mesmo que alguns pretendam esquecê-lo e denegrir a experiência da nossa ainda jovem democracia.            
Duma impossível lista exaustiva, em primeiro lugar a Liberdade. Liberdade de expressão, de afirmação, tantas vezes deturpada com impunidade. 

            Também com o 25 de Abril foi recuperado o Regime Político Democrático e reposto o Poder Local com representantes livremente eleitos por voto directo e universal. A postura daqueles que não servem o povo mas que se servem dos cargos que ocupam tem posto em causa a classe política e autárquica, ouvindo-se dizer frequentemente que “são todos iguais”. A desinformação e a ajuda de certa Comunicação Social têm contribuído para este clima.
A democracia não se pode traduzir unicamente pelo direito (e dever) de votar, nos prazos estabelecidos, para os órgãos de soberania e autárquicos e deixar que aqueles em quem votámos façam o que entenderem, ao contrário do que prometeram.

            A defesa de um trabalho digno e valorizado está estreitamente ligada ao alvorecer da democracia, como um direito de todo o ser humano.Este direito está hoje brutalmente a ser posto em causa. Krugman, prémio Nobel da Economia de 2011, afirmou recentemente que Portugal erra ao reduzir a despesa pública com desemprego elevado. 
            Os progressos sociais foram muitos, visando minorar o sacrifício dos mais desprotegidos, rumo a uma sociedade com menos desigualdades. Todavia, Portugal ocupa hoje na União Europeia lugar cimeiro entre os países em que é maior o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. E tanto mais haveria para dizer que não cabe no espaço desta curta intervenção!

             No entanto, passados trinta e sete anos, os ideais e as conquistas de Abril estão em perigo. Já fomos apontando, alguns dos recuos que, passo a passo, quase em surdina, se foram instalando, ao longo dos últimos trinta e cinco anos. 

Portugal vive hoje assolado por uma dívida externa preocupante e por uma especulação que os Bancos Centrais impuseram aos países que, como o nosso, estavam/ estão na sua mira. O país está confrontado com uma ingerência externa da União Europeia e do FMI e com a perda da soberania nacional.

Numa declaração ao New York Times, o sociólogo Robert Fishman afirma que Portugal não precisava de ajuda externa. Afirma ainda que “A revolução de 1974 em Portugal inaugurou uma vaga de democratização que inundou o mundo inteiro. É bem possível que 2011 marque o início de uma vaga invasiva nas democracias, por parte dos mercados não regulados (…)”. A nossa democracia inquietou e incomoda muita gente! 

            Neste ano em que o 25 de Abril se celebrou neste ambiente de angústia e incerteza, o grupo da CDU quer saudar aqueles que tornaram possível a Revolução, não apenas os militares de Abril mas também o povo que a desejou e a ela aderiu. Passados trinta e sete anos do 25 de Abril de 74, o grupo da CDU congratula-se por as comemorações da Revolução de Abril terem atingido uma expressão ainda maior, de esperança e de luta. 

Neste ano em que o 1º de Maio se comemorará com o país mergulhado numa profunda crise económica e social (mais de setecentos mil desempregados, centenas de milhar sem protecção social, mais de dois milhões de portugueses a viver na pobreza, …) o grupo da CDU vem reafirmar a necessidade defender e afirmar as portas que Abril abriu e as conquistas de Maio. 

            Como cantou Chico Buarque, Foi bonita a festa, pá. Fiquei contente Ainda guardo renitente um velho cravo para mim.

É bonita a festa, Chico. Os cravos ainda cheiram e há também um cheirinho d’ alecrim.

            Viva o 25 de Abril
            Viva o 1º de Maio"  
(António Santos, Isabel Coelho)

Não somos todos iguais. A CDU tem e terá provas dadas.

Por isso, em Junho votem CDU e verão a diferença, a diferença de quem apresenta propostas, de quem tem trabalho feito, contra aqueles que "participam" nos órgãos para votarem no que lhes encomendaram e nada mais, que não apresentam propostas e que lhes interessa o statuos quo. 


domingo, 17 de abril de 2011

Nobre(za) exige ... o Tacho


Nos últimos dias fomos confrontados com o anúncio da candidatura de Fernando Nobre como cabeça de lista do PSD por Lisboa.
Maior surpresa foi o facto de ter sido anunciado em simultâneo que, caso o partido ganhe as eleições, Fernando Nobre será o Presidente da Assembleia da República.

O cargo de Presidente da Assembleia da República, segundo na hierarquia do País, sempre foi por eleição dentro do Parlamento. Agora, é "entregue" a um candidato que não quer ser deputado, segundo anunciado na Comunicação Social. E que diz que não conhece o programa eleitoral do PSD.

O Dr. Fernando Nobre que, segundo consta tem feito um percurso meritório na AMI, não se enxerga? Perdeu a vergonha? O PPD/PSD coloca como primeiro candidato ao distrito da capital um homem que não conhece o seu projecto?!!!

Andam muitos trocados neste País. A democracia está aviltada e insultada.

Mais este triste caso da política portuguesa é alvo de chacota.


Os Homens da Luta apanharam bem a situação. Faz-nos rir um bocado.

Mas, depois de rirmos um bocado, temos de pensar seriamente que, em 5 de Junho, temos nas nossas mãos a possibilidade de erradicar os cancros que se instalaram na nossa sociedade.

Se não queremos que fique tudo na mesma, a única opção que temos é votar na CDU, tal como disse hoje Bernardino Soares em declarações aos jornalistas durante o Encontro Nacional do PCP sobre as legislativas. 



segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ainda se lembram de como começou a guerra no Iraque?

Corria o ano de 2003.
Eu ainda estava e estive no activo por quase mais sete anos. Tinha a meu cargo a orientação do Jornal de Escola. Um dos alunos da equipa escreveu um artigo (não o consigo encontrar) sobre o que se avizinhava. E inquiria o que se passaria daí a uns meses. Ilusão juvenil! Passaram anos, muitos, e ela continua, agora relegada para segundo plano por outras guerras!
Diziam eles, pela voz  de George W. Bush e seus aliados ingleses, que iam libertar o povo iraquiano.
O Iraque possuiria  armas de destruição maciça (que nunca foram encontradas)! E havia Saddam Hussein que tinha chegado ao poder num golpe apoiado pela CIA.


Que paralelismo com o que se passa agora na Líbia e noutros países árabes?
Muamar Kadafi, ainda há bem pouco tempo, era o inimigo da Al Kaeda e o amigo do ocidente.
Agora, parece que a Al-Kaeda, a par da NATO e seus aliados, estão a ajudar os "rebeldes" da Líbia.
Não quero, nem estou, a defender o regime líbio. Apenas, pretendo chamar a atenção das organizações que publicam abaixo assinados a favor do povo líbio (e daqueles que as assinam) que deveriam, primeiro, emitir petições a favor da paz e a condenar  os Obama, Sarkozy, Cameron e seus lacaios (tão parecido com o Iraque, não é?, só que na altura os nomes eram outros) pelo assassinato de civis. No Iraque houve mais de um milhão de mortos. Ajuda humanitária!

Deixo-vos um texto de Miguel Urbano Rodrigues.

"O subsolo líbio encerra as maiores reservas de petróleo (o dobro das norte-americanas) e de gás da África. Tomar posse delas é o objectivo inconfessado da falsa intervenção humanitária.
É dever de todas as forças progressistas que lutam contra a barbárie imperialista desmascarar a engrenagem que mundo afora qualifica de salvadora e democrática a monstruosa agressão à Líbia."

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Os sacrifícios são para todos?

(Republicada em 18/2/2011)


Cabe cada vez mais perguntar se os sacrifícios impostos aos portugueses de 2ª, 3ª, ... , enésima, para minorar o défice orçamental são para todos. Claro que não, pelo menos para mim, pois não menciono os de primeira. Não me atrevo a substituir "minorar" por "ultrapassar", pois os desmandos que continuamos a observar, a sujeição do poder político ao grande capital, não o permitem dizer.


Na Assembleia da República, o PCP apresentou uma proposta para evitar a fuga aos impostos da atribuição antecipada de dividendos da PT e de outras empresas. Essa proposta foi chumbada pelo PS, PSD e CDS.
Dois deputados independentes da bancada do PS abstiveram-se e o candidato presidencial Defensor Moura votou ao lado do PCP, BE e PEV. Embora seguindo a disciplina imposta, doze deputados do PS apresentaram declarações de voto. 
"Com esta iniciativa do PCP, não há qualquer tipo de aplicação retroactiva da lei fiscal. Não se trata de um novo imposto, mas da eliminação de um benefício que limitava a tributação destes dividendos. Era o que faltava que não houvesse retroactividade para aumentar o IRS sobre os salários e as reformas em 1% e 1,5% como o Governo e o PSD fizeram este ano, mas que para tributar os dividendos dos lucros destas grandes empresas já houvesse retroactividade. A norma constitucional da proibição de retroactividade não significa que se considerem retroactivas as alterações feitas nos impostos já existentes, como é o caso"  


Então, há ou não portugueses de 1ª, 2ª, ..., enésima?


A declaração de voto de António José Seguro "Desistir da tributação de um imposto extraordinário sobre os dividendos antecipados é contribuir para aumentar as desigualdades sociais, num país que já por si apresenta um enorme fosso entre os mais ricos e os mais pobres" condiz com os resultados do estudo coordenado por Renato do Carmo e publicados no livro "Desigualdades Sociais 2010 - Estudos e Indicadores" que, em Portugal: entre outros que os 20% mais ricos ganham, em média, seis vezes mais que os 20% mais pobres. Portugal apresenta o segundo valor mais alto no índice de desigualdade social da União Europeia, num "honroso" ex-aequo com Bulgária e Roménia.


E depois temos as acções de caridadezinha. Vamos brincar à caridadezinha 


Vamos brincar à caridadezinha - José Barata Moura

domingo, 9 de janeiro de 2011

OS CAMELOS TAMBÉM CHORAM- musicoterapia na Mongólia...

Chegam, por vezes, e-mails tão lindos que não posso deixar de os copiar, embora não sendo a autora, como meio de os divulgar e arquivar.
É o caso do seguinte:
Eu tinha lido que, lá na Índia, elefantes olhando o crepúsculo, às vezes, choram.

SABEMOS (?) que porcos e cabritos quando estão sendo mortos soltam gemidos e berros dilacerantes.
Este filme feito sobre uma comunidade de pastores de ovelhas e camelos, lá na Mongólia, mostra que os camelos choram, mas choram não diante da morte, mas em certa circunstância que faria chorar qualquer ser humano.

Para nós, tão afastados da natureza, olhando a dureza do asfalto e a indiferença dos muros e vitrinas; para nós que perdemos o diálogo com plantas e animais, e, por consequência, conosco mesmos, testemunhar com aquela  família de mongóis o nascimento de um filhote de camelo e sua relação com a mãe é uma forma de reencontrar a nossa própria e destroçada humanidade.

É isto: eles vivem num deserto.
Terra árida, pedregosa.

Eles, dentro daquelas casas redondas de lona e madeira, que podem ser
montadas e desmontadas.

Lá fora um vento permanente ou o assombro do silêncio e da escuridão.

E as ovelhas e carneiros ali em torno, pontuando a paisagem e sendo a
fonte de vida dos humanos.

Sucede, então, que a rotina é quebrada com o parto difícil de um camelinho.
Por isto, a mãe camela  rejeita-o.
O filho ali, branquinho, mal se sustentando sobre as pernas, querendo mamar e ela fugindo, dando patadas e indo acariciar outro filhote, enquanto o rejeitado geme e segue inutilmente a mãe na seca paisagem.
A família mongol e vizinhos tentam forçar a mãe camela a alimentar o filho. Em vão.

Só há uma solução, diz alguém da família, mandar chamar o músico.
Ao ouvir isto estremeci como se me preparasse para testemunhar um milagre.
E o milagre começou musicalmente a acontecer.

Dois meninos montam agilmente seus camelos e vão a uma vila próxima chamar o músico.

É uma vila pobre, mas já com coisas da modernidade, motos, televisão, e,
na escola de música, dentro daquele deserto, jovens tocam instrumentos e dançam, como se a arte brotasse lindamente das pedras.

O professor de música, como se fosse um médico de aldeia chamado para uma emergência, viaja com seu instrumento de arco e cordas para tentar
resolver a questão da rejeição materna.

Chega. E ali no descampado, primeiro coloca o instrumento com uma bela fita azul sobre o dorso da mãe camela. A família mongol assiste à cena.

Um vento suave começa a tanger as cordas do instrumento.
A natureza por si mesma harpeja sua harmônica sabedoria.
A camela percebe.
Todos os camelos percebem uma música reordenando suavemente os sentidos.
Erguem a cabeça, aguçam os ouvidos, e esperam.

A seguir, o músico retoma seu instrumento e começa a tocá-lo, enquanto a dona da camela afaga o animal e canta.

E enquanto cordas e voz soam, a mãe camela começa a acolher o filhote, empurrando-o docemente para suas tetas.

E o filhote antes rejeitado e infeliz, vem e mama, mama, mama desesperadamente feliz.

E enquanto ele mama e a música continua, a câmara mostra em primeiro plano que lágrimas desbordam umas após outras dos olhos da mãe camela, dando sinais de que a natureza se reencontrou a si mesma, a rejeição foi
superada, o afeto reuniu num  todo amoroso os apartados elementos.

Nós, humanos, na plateia, olhamos aquilo estarrecidos. Maravilhados.

Os mongóis na cena constatam apenas mais um exercício de sua milenar sabedoria.

E nós que perdemos o contato com o micro e o macrocosmos ficamos bestificados com nossa ignorância de coisas tão simples e essenciais.
 Bem que os antigos falavam da terapia musical. Casos de instrumentos que abrandavam a fúria, curavam a surdez, a hipocondria e saravam até a mania de perseguição.

Bem que o pensamento místico hindu dizia que a vida se consubstancia no universo com o primeiro som audível - um ré bemol - e que a palavra só
surgiria mais tarde.

Bem que os pitagóricos, na Grécia, sustentavam que o universo era uma partitura musical, que o intervalo musical entre a Terra e a Lua era de
um tom  e que o cosmos era regido pela harmonia das esferas.
Os primitivos na Mongólia sabem disto.
Os camelos também. Mas nós, os pós-modernos cultivamos a rejeição, a ruptura, a arrogância e o ruído.

Haja professores de música para consertar isto.

Camelos também choram




segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A Revolução, uma nova Era já começou!

Este artigo de autor desconhecido é fenomenal. Está publicado em muitos blogs. Circula por e-mail. Dá que pensar e comentar.
Está a acontecer na nossa rua e à nossa volta, e ainda não percebemos que a Revolução, uma nova Era já começou!


As pessoas andam um bocado distraídas! Não deram conta que há cerca de 3 meses começou a Revolução! Não! Não me refiro a nenhuma figura de estilo, nem escrevo em sentido figurado! Falo mesmo da Revolução "a sério" e em curso, que estamos a viver, mas da qual andamos distraídos (desprevenidos) e não demos conta do que vai implicar. Mas falo, seguramente, duma Revolução!

De facto, há cerca de 3 ou 4 meses começaram a dar-se alterações profundas, e de nível global, em 10 dos principais factores que sustentam a sociedade actual. Num processo rápido e radical, que resultará em algo novo, diferente e porventura traumático, com resultados visíveis dentro de 6 a 12 meses... E que irá mudar as nossas sociedades e a nossa forma de vida nos próximos 15 ou 25 anos!

... tal como ocorreu noutros períodos da história recente: no status político-industrial saído da Europa do pós-guerra, nas alterações induzidas pelo Vietname/ Woodstock/ Maio de 68 (além e aquém Atlântico), ou na crise do petróleo de 73.

Estamos a viver uma transformação radical, tanto ou mais profunda do que qualquer uma destas! Está a acontecer na nossa rua e à nossa volta, e ainda não percebemos que a Revolução já começou!

Façamos um rápido balanço da mudança, e do que está a acontecer aos "10 factores":

1º- A Crise Financeira Mundial: desde há 8 meses que o Sistema Financeiro Mundial está à beira do colapso (leia-se "bancarrota") e só se tem aguentado porque os 4 grandes Bancos Centrais mundiais - a FED, o BCE, o Banco do Japão e o Tesouro Britânico - têm injectado (eufemismo que quer dizer: "emprestado virtualmente à taxa zero") montantes astronómicos e inimagináveis no Sistema Bancário Mundial, sem o qual este já teria ruído como um castelo de cartas. Ainda ninguém sabe o que virá, ou como irá acabar esta história !...

2º- A Crise do Petróleo: Desde há 6 meses que o petróleo entrou na espiral de preços. Não há a mínima ideia/teoria de como irá terminar. Duas coisas são porém claras: primeiro, o petróleo jamais voltará aos níveis de 2007 (ou seja, a alta de preço é adquirida e definitiva, devido à visão estratégica da China e da Índia que o compram e amealham!) e começarão rapidamente a fazer sentir-se os efeitos dos custos de energia, de transportes, de serviços. Por exemplo, quem utiliza frequentemente o avião, assistiu há 2 semanas a uma subida no preço dos bilhetes de... 50% (leu bem: cinquenta por cento). É escusado referir as enormes implicações sociais deste factor: basta lembrar que por exemplo toda a indústria de férias e turismo de massas para as classes médias (que, por exemplo, em Portugal ou Espanha representa 15% do PIB) irá virtualmente desaparecer em 12 meses! Acabaram as viagens de avião baratas (...e as férias  massivas!), a inflação controlada, etc...

3º- A Contracção da Mobilidade: fortemente afectados pelos preços do petróleo, os transportes de mercadorias irão sofrer contracção profunda e as trocas físicas comerciais (que sempre implicam transporte) irão sofrer fortíssima retracção, com as óbvias consequências nas indústrias a montante e na interpenetração económica mundial.

4º- A Imigração: a Europa absorveu nos últimos 4 anos cerca de 40 milhões de imigrantes, que buscam melhores condições de vida e formação, num movimento incessante e anacrónico (os imigrantes são precisos para fazer os trabalhos não rentáveis, mas mudam radicalmente a composição social de países-chave como a Alemanha, a Espanha, a Inglaterra ou a Itália). Este movimento irá previsivelmente manter-se nos próximos 5 ou 6 anos! A Europa terá em breve mais de 85 milhões de imigrantes que lutarão pelo poder e melhor estatuto sócio-económico (até agora, vivemos nós em ascensão e com direitos à custa das matérias-primas e da pobreza deles)!

5º- A Destruição da Classe Média: quem tem oportunidade de circular um pouco pela Europa apercebe-se que o movimento de destruição das classes médias (que julgávamos estar apenas a acontecer em Portugal e à custa deste governo) está de facto a "varrer" o Velho Continente! Em Espanha, na Holanda, na Inglaterra ou mesmo em França os problemas das classes médias são comuns e (descontados alguns matizes e diferente gradação) as pessoas estão endividadas, a perder rendimentos, a perder força social e capacidade de intervenção.

6º- A Europa Morreu: embora ainda estejam projectar o cerimonial do enterro, todos os Euro-Políticos perceberam que a Europa moribunda já não tem projecto, já não tem razão de ser, que já não tem liderança e que já não consegue definir quaisquer objectivos num "caldo" de 27 países com poucos ou nenhuns traços comuns!... Já nenhum Cidadão Europeu acredita na "Europa", nem dela espera coisa importante para a sua vida ou o seu futuro! O "Requiem" pela Europa e dos "seus valores" foi chão que deu uvas: deu-se há dias na Irlanda!

7º- A China ao assalto! Contou-me um profissional do sector: a construção naval ao nível mundial comunicou aos interessados a incapacidade em satisfazer entregas de barcos nos próximos 2 anos, porque TODOS os estaleiros navais do Mundo têm TODA a sua capacidade de construção ocupada por encomendas de navios... da China. O gigante asiático vai agora "atacar" o coração da Indústria europeia e americana (até aqui foi just a joke...). Foram apresentados há dias no mais importante Salão Automóvel mundial os novos carros chineses. Desenhados por notáveis gabinetes europeus e americanos, Giuggiaro e Pininfarina incluídos, os novos carros chineses são soberbos, réplicas perfeitas de BMWs e de Mercedes (eu já os vi!) e vão chegar à Europa entre os 8.000 e os 19.000 euros! E quando falamos de Indústria Automóvel ou Aeroespacial europeia...helás! Estamos a falar de centenas de milhar de postos de trabalhos e do maior motor económico,  financeiro e tecnológico da nossa sociedade. À beira desta ameaça, a crise do têxtil foi uma brincadeira de crianças! (Os chineses estão estrategicamente em todos os cantos do mundo a escoar todo o tipo de produtos da China, que está a qualificá-los cada vez mais).

8º- A Crise do Edifício Social: As sociedades ocidentais terminaram com o paradigma da sociedade baseada na célula familiar! As pessoas já não se casam, as famílias tradicionais desfazem-se a um ritmo alucinante, as novas gerações não querem laços de projecto comum, os jovens não querem compromissos, dificultando a criação de um espírito de estratégias e actuação comum...

9º- O Ressurgir da Rússia/Índia: para os menos atentos: a Rússia e a Índia estão a evoluir tecnológica, social e economicamente a uma velocidade estonteante! Com fortes lideranças e ambições estratégicas, em 5 anos ultrapassarão a Alemanha!

10º- A Revolução Tecnológica: nos últimos meses o salto dado pela revolução tecnológica (incluindo a biotecnologia, a energia, as comunicações, a nano tecnologia e a integração tecnológica) suplantou tudo o previsto e processou-se a um ritmo 9 vezes superior à média dos últimos 5 anos!

Eis pois, a Revolução!

Tal como numa conta de multiplicar, estes dez factores estão ligados por um sinal de "vezes" e, no fim, têm um sinal de "igual". Mas o resultado é ainda desconhecido e... imprevisível.Uma coisa é certa: as nossas vidas vão mudar radicalmente nos próximos 12 meses e as mudanças marcar-nos-ão (permanecerão) nos próximos 10 ou 20 anos, forçando-nos a ter carreiras profissionais instáveis, com muito menos promoções e apoios financeiros, a ter estilos de vida mais modestos, recreativos e ecológicos.


Espera-nos o Novo! Como em todas as Revoluções!

Um conselho final: é importante estar aberto e dentro do Novo, visionando e desfrutando das suas potencialidades! Da Revolução! Ir em frente! Sem medo!

Afinal, depois de cada Revolução, o Mundo sempre mudou para melhor!...

 

domingo, 2 de janeiro de 2011

Pássaro - cinza

Alguém compreendeu o pássaro – cinza?
Fugiu da gaiola
Voou com asas de força dor
Na procura do infinito
Dum galho verde quebrado
Para descansar.

Alguém compreendeu o pássaro – cinza?
Ia pesado de solidão
Voou com asas enfraquecidas
Na procura de encontrar
Um galho verde quebrado
Para o corpo cansado

Alguém compreendeu o pássaro – cinza?
Caiu (gravidade!)
Na terra apodrecido
Da gaiola fugido
Do infinito não alcançado
Uma lágrima

Alguém compreendeu o pássaro – cinza?
Os bichos comem-lhe
O sonho de infinito
A dor calada de grades fugida
Os vermes devoram a utopia
De compreender o pássaro.