O último cigarro
Agosto de 2013 - Um copo de rosé bem fresco (o calor é muito) e um
cigarro que, infelizmente, nunca é demais.
Todos os objectos te lembram. Deitei
fora a chávena em que tomavas o medicamento para a memória. Que quero? Apagar
todos os vestígios que deixaste? É demasiado doloroso conviver com todas estas
recordações. Talvez deseje que fiques só tu. Já não estás. Todos os dias olho
para o sofá em que te sentavas, como uma espera que lá estejas.
Estou deprimida. Faço apenas o
essencial para me manter viva. Instinto de sobrevivência? Tudo o resto que
dantes gostava de fazer fica para amanhã.
Arrasto-me, cigarro após cigarro.
Fumei o último cigarro do maço que tinhas nos cuidados paliativos.
Novembro de 2013 - A tua casa, a nossa casa está à venda. Só
querias estar em casa, quando estavas fora, voltar à Aldeia de Joanes. Era o
melhor sítio do Mundo.
Dezembro de 2013 - Hoje fui comprar alguns presentes de Natal, como
por obrigação. Triste. Havia sempre o teu presente para mim e o meu para ti.
Hoje não há nada: não há árvore de Natal nem enfeites. Arrasto-me. Faço tudo
porque é assim.