O último cigarro
Agosto de 2013 - Um copo de rosé bem fresco (o calor é muito) e um
cigarro que, infelizmente, nunca é demais.
Todos os objectos te lembram. Deitei
fora a chávena em que tomavas o medicamento para a memória. Que quero? Apagar
todos os vestígios que deixaste? É demasiado doloroso conviver com todas estas
recordações. Talvez deseje que fiques só tu. Já não estás. Todos os dias olho
para o sofá em que te sentavas, como uma espera que lá estejas.
Estou deprimida. Faço apenas o
essencial para me manter viva. Instinto de sobrevivência? Tudo o resto que
dantes gostava de fazer fica para amanhã.
Arrasto-me, cigarro após cigarro.
Fumei o último cigarro do maço que tinhas nos cuidados paliativos.
Novembro de 2013 - A tua casa, a nossa casa está à venda. Só
querias estar em casa, quando estavas fora, voltar à Aldeia de Joanes. Era o
melhor sítio do Mundo.
Dezembro de 2013 - Hoje fui comprar alguns presentes de Natal, como
por obrigação. Triste. Havia sempre o teu presente para mim e o meu para ti.
Hoje não há nada: não há árvore de Natal nem enfeites. Arrasto-me. Faço tudo
porque é assim.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarQuerida Isabel! Também penso nele todos os dias, por um motivo ou por outro. Já dei comigo a pegar no telefone para lhe fazer uma pergunta, mas depois a saudade foi ainda mais forte.
ResponderEliminarNão tenho sido uma grande amiga, não a tenho acompanhado o que devia, sei que sofre que, que se sente só, que comete excessos e que está deprimida, mas, cada vez mais escrava da minha vida, não tenho ido partilhar a nossa saudade, não tenho sido capaz de a ajudar.
Falo muito nele à Maria Rita, não quero que ela se esqueça, as outras já não o vão esquecer.
Há uma mensagem de esperança na vossa história, os vossos anos felizes foram um acontecimento muito pouco provável. Quem conheceu o meu tio Juca antes, não o imaginava a ser tão feliz. Mereceram esses anos até ao último segundo. Isto para lhe dizer que pode parecer pouco provável, mas deve sempre procurar ser mais feliz, está provado que não é impossível.
Já não fumo, mas este Sábado, se lá estiver, vou tomar um café consigo a vossa casa.
Um beijo,
Catarina
Obrigada,querida Catarina. As tuas palavras foram um alívio para mim,pois consegui chorar,o que acontece muito poucas vezes.
EliminarAmanhã à tarde sou capaz de ir à Covilhã, Há lá uma comemoração do Dia do Idoso. Por isso, se pensares vir até cá, telefona antes para saberes se estou em casa.
Beijinho.
Isabel
Combinado,
Eliminarbeijinhos
Catarina