domingo, 26 de dezembro de 2010

Cecília Meireles

Porquê hoje esta saudade da poesia de Cecília Meireles?

A nostalgia da/na sua poesia.


Resíduo (Cecília Meireles)

Quando passarem os dias,
e não mais se avistar
nosso rosto, e o sereno
modo nosso de olhar,

e a nossa evaporada
voz não viver mais no ar,
e as sombras esquecerem
a que era a do nosso andar,

vai ser doce pensar-se,
- em que secreto lugar? -
nos sonhos que inventávamos,
ternos e devagar,

no perfil que tivemos,
tão fino e singular,
e no louro e nas rosas
que o poderiam coroar,


e nos vergéis que sentíamos,
quando íamos a par,
ouvindo o amor, que nunca
chegou a sussurrar.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Os sacrifícios são para todos (2)?

Recebi através do WikiLeaks nacional (!) fotocópia do despacho do Presidente da Câmara de Guimarães, acerca das retribuições no âmbito da Fundação Cidade de Guimarães, criada no âmbito Cidade Europeia da Cultura 2012.


Ver para crer: Sigam a ligação (Fartar vilanagem) e, depois, abram o documento em PDF.

Fartar vilanagem



Muito interessante se seguirem também o seguinte link

No império da vilanagem


Fica mais uma vez a pergunta em epígrafe.



segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Do meu baú de cinema - Nicholas Ray

Ontem um filme, hoje um autor.
Lembro bem, no Cine Clube da Dois, o ciclo dedicado a Nicholas Ray. Os filmes deste autor marcaram uma época. 
No entanto, no meu entender, as traduções dos títulos para português deixavam muito a desejar.
O excelente “Knock on any door” foi traduzido como “O crime não compensa” e “Matar ou não matar” foi atribuído a “In a lonely place”. Os títulos em português (um título traduz algo, não?) não permitem descortinar as marcas distintivas de Nicholas Ray. O espectador menos atento pode confundir estes filmes com vulgares policiais. No entanto, os seus protagonistas são seres frágeis, humanos, embora violentos, que não têm nada a ver com os super heróis estereotipados, posteriormente glorificados por Hollywood, e que proliferam desde os anos 80 até aos nossos dias.
Nestes dois filmes, a intriga, a violência física e mental são excedidas e constituem o contexto onde se movem personagens de características marcantes, capazes de se associarem a sentimentos sublimes e a paixões arrebatadoras.
De “In a lonely place” não é possível esquecer
“Eu nasci quando ela me beijou, morri quando me deixou, e vivi algumas semanas enquanto ela me amou”
nem a composição da personagem de um homem agitado, interpretado por Humphrey Bogart, numa figura tão ao seu estilo.

Já em “Knock on any door” ressalta a sensibilidade de Humphrey Bogart em contraste com a criminalidade juvenil a que John Derek deu corpo, a acusação de uma sociedade que permite o desabrochar de delinquentes como este problemático Pretty Romano Boy. Há ainda o desfecho inesperado que transforma uma causa quase ganha numa causa perdida.

Que me recorde “Johnny Guitar” não fez parte da cinematografia do Cine Clube, dessa época. Gravei-o posteriormente numa, actualmente obsoleta, cassete VHS que ainda guardo religiosamente.

François Truffaut escreveu "Este filme teve mais importância na minha vida do que na vida de Nicholas Ray".

Recordar Nicholas Ray é falar de bom cinema, principalmente o realizado nas décadas de 40 e 50. Dois links para quem quiser começar

domingo, 5 de dezembro de 2010

Do meu baú de cinema - TABU

Há muitos anos, a RTP2 teve o melhor programa de artes que me foi dado ver na televisão portuguesa, o Cine Clube.
Desde que a minha televisão, naqueles anos idos da minha juventude, começou a captar o canal 2 em condições perfeitas, não perdia uma sessão do Cine Clube, aos domingos à noite.
Recordo especialmente, da série dedicada a Murnau, TABU, uma história dos mares do sul.
Nunca um filme mudo me pareceu tão ELOQUENTE como esta história de Romeu e Julieta. Foi como vi o filme, apesar da separação dos dois apaixonados não ter sido provocada pelo ódio entre famílias, como acontecia no romance de Shakespeare, mas pela exigência de costumes tribais.
TABU (Sagrado) foi o nome dado à jovem Reri, escolhida como substituta da virgem consagrada aos deuses de Bora-Bora, após o falecimento desta.
TABU (Intocável) era o nome da virgem que nenhum homem podia desejar, tocar.
TABU (Interdito) era também o local vedado à apanha de pérolas, devido à existência de tubarões.
TABU (Proibido) era sobretudo o amor dos dois jovens, Matahi e Reri, reprimido pelas convenções sociais e religiosas da lei tribal.
Reri partiu e Matahi morreu afogado, quando a procurava alcançar.
É um filme muito belo que vou procurar rever em breve.
Por hoje, fecho o meu baú.