quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O último cigarro


O último cigarro

Agosto de 2013 - Um copo de rosé bem fresco (o calor é muito) e um cigarro que, infelizmente, nunca é demais.
Todos os objectos te lembram. Deitei fora a chávena em que tomavas o medicamento para a memória. Que quero? Apagar todos os vestígios que deixaste? É demasiado doloroso conviver com todas estas recordações. Talvez deseje que fiques só tu. Já não estás. Todos os dias olho para o sofá em que te sentavas, como uma espera que lá estejas.
Estou deprimida. Faço apenas o essencial para me manter viva. Instinto de sobrevivência? Tudo o resto que dantes gostava de fazer fica para amanhã.
Arrasto-me, cigarro após cigarro. Fumei o último cigarro do maço que tinhas nos cuidados paliativos.
Novembro de 2013 - A tua casa, a nossa casa está à venda. Só querias estar em casa, quando estavas fora, voltar à Aldeia de Joanes. Era o melhor sítio do Mundo.
Dezembro de 2013 - Hoje fui comprar alguns presentes de Natal, como por obrigação. Triste. Havia sempre o teu presente para mim e o meu para ti. Hoje não há nada: não há árvore de Natal nem enfeites. Arrasto-me. Faço tudo porque é assim.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Glicínias


Pela primeira vez, em 5 anos, a glicínia floriu. Foi como me disseram: flores só 5 anos depois de plantada.

As flores são ainda tímidas em mostrar o seu fulgor.

Tu já não estás para as ver.
Que conversa poderíamos fazer.

Mas só restam a glicínia e as suas flores.

sábado, 22 de março de 2014

Actual

Encontrei nos meus papeis, já não me lembro quem é o autor, mas achei bonito e apropriado aos tempos que vivemos:


Vivendo, nem tudo admito

mas sofro e vejo
que a vida é tão contrária ao que desejo.

O que mais me admira e entristece
e, afinal, faz com que não me iluda
é ver tanta, tanta gente muda
e a facilidade com que essa gente esquece.

(Adaptado)