quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O último cigarro


O último cigarro

Agosto de 2013 - Um copo de rosé bem fresco (o calor é muito) e um cigarro que, infelizmente, nunca é demais.
Todos os objectos te lembram. Deitei fora a chávena em que tomavas o medicamento para a memória. Que quero? Apagar todos os vestígios que deixaste? É demasiado doloroso conviver com todas estas recordações. Talvez deseje que fiques só tu. Já não estás. Todos os dias olho para o sofá em que te sentavas, como uma espera que lá estejas.
Estou deprimida. Faço apenas o essencial para me manter viva. Instinto de sobrevivência? Tudo o resto que dantes gostava de fazer fica para amanhã.
Arrasto-me, cigarro após cigarro. Fumei o último cigarro do maço que tinhas nos cuidados paliativos.
Novembro de 2013 - A tua casa, a nossa casa está à venda. Só querias estar em casa, quando estavas fora, voltar à Aldeia de Joanes. Era o melhor sítio do Mundo.
Dezembro de 2013 - Hoje fui comprar alguns presentes de Natal, como por obrigação. Triste. Havia sempre o teu presente para mim e o meu para ti. Hoje não há nada: não há árvore de Natal nem enfeites. Arrasto-me. Faço tudo porque é assim.

4 comentários:

  1. Querida Isabel! Também penso nele todos os dias, por um motivo ou por outro. Já dei comigo a pegar no telefone para lhe fazer uma pergunta, mas depois a saudade foi ainda mais forte.
    Não tenho sido uma grande amiga, não a tenho acompanhado o que devia, sei que sofre que, que se sente só, que comete excessos e que está deprimida, mas, cada vez mais escrava da minha vida, não tenho ido partilhar a nossa saudade, não tenho sido capaz de a ajudar.
    Falo muito nele à Maria Rita, não quero que ela se esqueça, as outras já não o vão esquecer.
    Há uma mensagem de esperança na vossa história, os vossos anos felizes foram um acontecimento muito pouco provável. Quem conheceu o meu tio Juca antes, não o imaginava a ser tão feliz. Mereceram esses anos até ao último segundo. Isto para lhe dizer que pode parecer pouco provável, mas deve sempre procurar ser mais feliz, está provado que não é impossível.
    Já não fumo, mas este Sábado, se lá estiver, vou tomar um café consigo a vossa casa.
    Um beijo,
    Catarina

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    1. Obrigada,querida Catarina. As tuas palavras foram um alívio para mim,pois consegui chorar,o que acontece muito poucas vezes.
      Amanhã à tarde sou capaz de ir à Covilhã, Há lá uma comemoração do Dia do Idoso. Por isso, se pensares vir até cá, telefona antes para saberes se estou em casa.
      Beijinho.
      Isabel

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