Grãos de areia
Ias partir! Eu sabia – aliás, toda a gente o sabia.
Faltava uma semana primeiro; depois, um dia, poucas horas.
Queria ter preso o tempo entre as mãos e não o deixar
correr. Mas escapava-se-me entre os dedos como grãos de areia.
Já não te podia impedir.
Tinha sono mas (tão estranho!) não conseguia dormir.
Tu, na Casa, fazias as malas. Pensavas em mim? Para quê, se
já nos tínhamos despedido?
Queria ver-te só mais uma vez e não saía da janela. Até que
adormeci. As mãos abriram-se e o tempo, o pouco que ainda lá estava, fugiu.
De manhã, aflita, corri para a Casa.
“Já se foi embora” – quem mo disse?
Haveria algo que me pudesse afirmar que tinhas existido?
Apenas uma concha, no fundo do saco de praia, tinha ainda uns grãos de areia,
que nós pisámos e que, rindo-se de nós, quando os tentámos agarrar, nos fugiram
entre as mãos.
Agosto de 1965
"Grãos de Areia" foi publicado no Diário Juvenil do Diário de Lisboa.
Não sei onde guardei o recorte com o comentário de Mário Castrim que foi muito encorajador.
Aqui vos deixo ficar este Sentimento.
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